João Lopes dos SANTOS ®
- Nascimento: 20 Nov 1894, Ribeira Brava, São Nicolau, Cabo Verde 1
- Casamento (1): Maria Amália Ramos de FIGUEIREDO
- Óbito: 6 Nov 1979, Lisboa, , Lisboa, Portugal com 84 anos de idade
- Sepult.: Nov 1979, Lisboa, , Lisboa, Portugal
João também usou o nome João LOPES.
Eventos de relevo na sua vida:
• Altura: 1.81 m. 1
• Atividade literária: Diretor da Revista CLARIDADE, depois de Mar 1937, em Mindelo, São Vicente, Cabo Verde. NB-1: A título de exemplo, apresentamos em seguida, a capa e o índice do N.º 9 (último nº da revista, publicado em Dezembro1960) gentilmente divulgados por Joaquim Saial no seu site "Praia de Bote". Com a devida vénia, eis a seguir, um extrato do publicado por Saial (AQUI). Poderá consultar no "Praia de Bote" as capas e os índices dos 9 números da revista Claridade (1936-1960), que segundo Saial: "Fica assim aberto ao público o presente acervo, facilitador para quem estuda estes assuntos e que, ao que supomos, não existe noutro local da internet" NB-2: todos cujos nomes comportam um link, têm uma página genealógica nesta árvore, acedida por esse link.
Propriedade do Grupo "Claridade"; Director: João Lopes; Editor: Joaquim Tolentino (com a habilitação legal) - Administração em S. Vicente de Cabo Verde; Composto e Impresso na Sociedade de Tipografia e Publicidade, Lda. - S. Vicente, Rua Brites de Almeida, n.º 12 [sem indicação de preço, agora com 84 páginas, o maior número de sempre] Textos e colaborações: - Capa: Carregadeiras, linóleo, de Abílio Duarte [Neste derradeiro número de "Claridade", pela primeira vez surgem ilustrações: esta e uma outra, de Rogério Leitão, na página 70] - Páginas 2 a 5: História do Tempo Antigo, de António Aurélio Gonçalves - Páginas 5 a 10: Beira do Cais, de Virgínio Melo [trata-se de Teobaldo Virgínio, que editará este conto em livro do mesmo nome, juntamente com "Ondê Menina, Ondê Vaidade" e "Colóquios de Aldeia" num livrinho da Colecção Imbondeiro, Publicações Imbondeiro, Sá da Bandeira, Angola, em Março de 1963. Curiosamente, é o último livro que entrou na nossa biblioteca cabo-verdiana, há três dias, apenas] - Páginas 10 a 12: Titina, de Virgílio Pires - Páginas 12 a 15: Noite, de Viirgílio Pires - Páginas 15 a 23: Cantigas de Ana Procópio, de Félix Monteiro - Página 24: Girasol [poema], de Corsino Fortes - Página 25: Vendeta [poema], de Corsino Fortes - Página 26: Pecado Original [poema], de Corsino Fortes - Página 27: Meio-Dia [poema], de Corsino Fortes - Página 28: Paixão [poema], de Corsino Fortes - Páginas 29 e 30: Noite de S. Silvestre [poema], de Corsino Fortes - Páginas 31 a 33: Roteiro da Rua de Lisboa. Poema n.º 4. Nocturno, de Jorge Barbosa - Página 34: In Memoriam de Belarmino de Nhô Talef [poema], de Ovídio Martins - Página 35: Desesperança [poema], de Ovídio Martins - Páginas 36 e 37: Historieta [poema], de Francisco Mascarenhas - Páginas 37 e 38: Desencontro [poema], de Virgínio Melo [Teobaldo Virgínio, como vimos] - Páginas 38 e 39: Vinte e Quatro Horas [poema], de Virgínio Melo - Página 39: Roteiro [poema], de Virgínio Melo - Página 40: Agora e Eu [poema], de Virgínio Melo - Página 41: Testamento Para o Dia Claro [poema], de Arnaldo França - Página 42: Soneto [poema], de Arnaldo França - Páginas 43 a 50: A Família de Aniceto Brasão, de Henrique Teixeira de Sousa - Páginas 51 a 57: O Resgate, de Francisco Lopes - Páginas 58 a 60: Pedacinho, de Baltasar Lopes - Páginas 60 a 63: Egídio e Job, de Baltasar Lopes - Páginas 64 a 69: A Originalidade Humana de Cabo Verde, de Pedro de Sousa Lobo - Página 70: Linóleo de Rogério Leitão [mulher a pilar o milho] - Páginas 71 e 72: Cutchidêra lá di Fora [poema em crioulo], de Jorge Pedro - Páginas 72 a 74: Nha Tabaquêro [poema em crioulo], de Jorge Pedro - Páginas 75 e 76: Texto português dos dois poemas de Jorge Pedro - Página 77: Fonte de nha Sodade [poema em crioulo], de Sérgio Frusoni - Páginas 77 e 78: Tempo Feliz [poema em crioulo], de Sérgio Frusoni - Páginas 79 e 80: Texto português dos dois poemas de Sérgio Frusoni - Páginas 81e 82: Texto anónimo de antecipação sobre este colóquio inserido no programa do V Centenário do Descobrimento de Cabo Verde - Página 83: Registo. [um interessante texto anónimo] - Página 84: Túnica [poema],de Osvaldo Alcântara [Baltasar Lops]
• Assinatura / Rubrica: em documento assinado em 1940.
• Foto meia idade: 1940. 1
• Trabalhou como comerciante em 1940. 1
• Morava em 1940 in São Nicolau, Cabo Verde. 1
• Foto em grupo: com colegas do Seminário-Liceu de S. Nicolau, em 1966.
• Atividade literária: escritor. Leia mais (em língua francesa) aqui. NB: A página indicada faz parte de um "site qui est réalisé par Christophe Chazalon à partir de mai 2018".
• Nota biográfica: constante no site da Academia Cabo-verdiana de Letras,,. Em virtude de ser patrono da cátedra nº 13 das 40 desta Academia
"Nasceu em 20 Novembro de 1894 em Ribeira Brava, São Nicolau, Cabo Verde, Casou-se com a Maria Amália Ramos de FIGUEIREDO, Faleceu em 6 Novembro 1979 em Lisboa, Portugal com 84 anos de idade."
• Nota biográfica: por Mateus Monteiro, em 2007,. Nota transcrita com a devida vénia de www.lopesfilho.com clique aqui
João Lopes dos Santos Figueiredo, membro de uma família burguesa de descendência europeia pelo lado do pai, nasceu na Vila da Ribeira Brava em 1894. Filho de Serafim Lopes dos Santos e Ana da Encarnação Figueiredo, gozou do privilégio de uma formação intelectual ganha até aos dezasseis anos, em São Nicolau que na altura era detinha o mais alto nível de instrução. Intelectual caracterizado pela sua originalidade e inteligência, autodidacta de formação humanística, conviveu de perto com o homem cabo-verdiano de todas as ilhas; Possuía um alargado círculo de relações com intelectuais espalhados por diferentes países; Conviveu com todos os elementos do grupo incubador da Revista Claridade; Estimulou o aparecimento da Revista Claridade, inicialmente como colaborador, posteriormente como director; Autor dos primeiros textos do domínio da sociologia e antropologia cultural em Cabo Verde, antecedeu, nessa matéria, Teixeira de Sousa, Félix Monteiro e outros; Desempenhou o papel de mediador e conselheiro para consolidar a camaradagem necessária à vida do grupo; postura que começou a se evidenciar na sua conferências de Mindelo proferida em 1924. Homem de grande abertura, bom sentido de humor, que inspirava a confiança da juventude, sobretudo do grupo dos finalistas do Liceu Gil Eanes que na altura criou a Revista Certeza, conforme o testemunho do Prof. Arnaldo França, que relata o episódio ligado às eleições ditas democráticas à Assembleia Nacional, marcadas pelo governo português, com o término da 2.ª guerra, em que a juventude considerava a hipótese da candidatura do Dr. Baltazar Lopes da Silva. Mas foi a João Lopes que os jovens dirigiram pedindo-lhe que transmitisse o desejo deles ao mestre Baltazar Lopes. Por seu intermédio a geração de Certeza entusiasmou-se com a poesia protestatária e reivindicativa de Langston Hughes.
Mas qual foi o percurso de João Lopes? Em 1908, João Lopes concluía a instrução primária na escola de Sr. Joaquim, dependente do Seminário, no Caleijão, depois de ter abandonado a escola do professor Pedro de Figueiredo, seu tio-avó, na Ribeira Brava, horrorizado com as palmatoadas. Com a conclusão do 2.º grau, matriculou-se no Seminário- Liceu como aluno externo, onde estudou durante dois anos. Em 1910, com a morte da mãe, foi obrigado a abandonar os estudos a fim de procurar um emprego, aos dezasseis anos de idade. A solução foi a emigração para os Estados Unidos, a bordo do Navio "Willeam Groger", propriedade do amigo da família, Zurick. Como todos os emigrantes, os primeiros anos foram difíceis. Não sabendo falar o inglês, recorria ao francês que aprendera no Seminário. Mais tarde ele encontrou um antigo aluno do Seminário, José Lisboa, de onde nasceu uma sólida amizade, que foi o seu guia nos seus primeiros anos da América.
Guiado por José Lisboa, João Lopes lançou-se na leitura de obras dos clássicos na Biblioteca Pública de New Bedford, a qual tinha uma secção portuguesa riquíssima e selecta. João Lopes matriculou-se em escolas nocturnas para emigrantes.
Conjuntamente com alguns amigos fundaram e lançaram o jornal O Cabo Verde (que teve vida curta). Tinha-se proclamado a República em Portugal e muitos eles estavam os sonhos desses jovens que inclusive desejavam a autonomia das colónias que no seu entender, na altura, continuariam portuguesas.
Dominando já a língua inglesa e ansioso por um curso que lhe foi negado pelo seu pai, procurou empregos nocturnos e, frequentando escolas de dia, matriculou-se também por correspondência em La Sale Extension University Law School. Todo o dinheiro que lhe restava das despesas de propina e manutenção era para comprar livros, tantos ingleses como portugueses. Em Fall River, João Lopes fundou o "Clube Instrutivo Português", onde congregava toda a comunidade cabo-verdiana do sítio para ler e frequentar escolas elementares de português, francês e inglês. Nos Estados Unidos adquiriu uma cultura em matéria jurídica e de natureza antropológica. Já com uma dezena de anos nos Estados Unidos foi atingido pela Gripe Espanhola. Em 1920, quase às portas da morte volta para a terra Natal, via Lisboa. Ali ficou sem dinheiro porque tudo o que pode amealhar foi gasto nos livros e tratamento da gripe. Para regressar a Cabo Verde teve que contar com o apoio do pai.
A sua biblioteca chegou em São Vicente um ano mais tarde, mas teve o azar de perder uma grande quantidade dos livros que chegaram encharcados, o que lhe causou muito sofrimento. Apesar dos contratempos, mais tarde, João Lopes veria a organizar uma importante biblioteca particular das mais ricas existentes em Cabo Verde, consultada pelos estudiosos da temática cabo-verdiana. Dois anos depois de chegar a São Vicente, em 1922, "com a febre das letras" formou o seu círculo de relações e promoveu as primeiras reuniões do "Ciclo Cultural", um grupo da "inteligentzia local", com o Dr. Adriano Duarte Silva, Alberto Leite, Jorge Barbosa, José Lisboa, Francisco Azevedo, e Pedro Ferreira Santos. A primeira reunião aconteceu no seu quarto em "Fonte Cónego", onde leu uma conferência contendo as suas impressões sobre América. A segunda foi em casa do Dr. Adriano Duarte Silva e este leu uma conferência sobre os Desportos. A terceira reunião não chegou a acontecer porque João Lopes seguiu para Praia.
Na cidade da Praia publicou as conferências proferidas em São Vicente. Conviveu com Jaime de Figueiredo. Contactou com Julião Quintinha, António Pedro, jovem possuidor de doutrinas do modernismo, admirador, como Jaime, da Presença. Nessa mesma altura, conjuntamente com outros amigos organizaram um grupo de "Amigos da Cidade Velha". Na década de 1920 João Lopes já via Cidade Velha como um "Património da Humanidade". Cerca de 1928/9 foi redactor do jornal Eco de Cabo Verde juntamente com Pedro Cardoso e Dr. Corsino Lopes, onde publicou os seus artigos sobre economia. Em 1929 João Lopes editou o livro de poemas Diário de António Pedro, o primeiro trabalho sobre Cabo Verde, prenhe de folk-motives que João Lopes muito bem conhecia e defendia. Com o regresso de Lisboa, no início da década de trinta, de Baltazar Lopes e, mais tarde, de António Aurélio Gonçalves, com a participação de João Lopes, Manuel Lopes, Jorge Barbosa, Osório de Oliveira, Pedro Corsino Azevedo e outros surgiu a revista Claridade, em Março de 1936 e que, publicado com o propósito de "fincar os pés na terra", operou uma grande viragem na literatura cabo-verdiana. As primeiras participações de João Lopes foram como colaborador, onde publicou Apontamentos. A partir daí foi director da Revista até ao último número (1960). Entusiasmado com a mãe terra, fixou na sua Ilha São Nicolau para consolidar a sua Herdade da Egolândia em Fajã (Pico Agudo) e adquirir terras em redor. Mas é o próprio João Lopes quem admite o cumprimento da sentença: "a agricultura é a arte de empobrecer alegremente". Em 1943 encontra-se pobre e debilitado. Regressa a São Vicente, passando a trabalhar como agente comercial, saltando de ilha para ilha, o que contribui para o enriquecimento do seu cabedal de conhecimento sobre o homem cabo-verdiano. Em são Vicente foi redactor de Notícias de Cabo Verde.
Com quase 60 anos adquiriu um curso de óptica-refractiva, em Espanha, o que lhe permitiu retomar as suas deslocações às ilhas, desta vez, para cuidar da saúde das populações, melhorando a vista a muita gente. Exemplo disso é a carta de Dr. Agostinho Neto, p 308. Actividade que lhe proporcionou muito prazer.
Em 6 de Novembro de1979 João Lopes falecia em Lisboa aniquilado pela doença de Parkinson que na altura não contava com os recursos medicamentosos de que actualmente se dispõe, deixando a sua valiosa biblioteca aos munícipes de São Nicolau. Este gesto, minhas senhoras e meus senhores, merecem o nosso aplauso!
Infelizmente esse acervo esteve, durante muito tempo, num estado de conservação deplorável, devido ao desinteresse de muita gente pelas letras, certos Delegados de Governo que estiveles estavam em São Nicolau no período pós-independência. E isso é motivo de alguma mágoa e decepção. Mas graças ao saudoso João de Deus Lopes da Silva (DiDeus) foi possível salvar parte dos livros e em homenagem à memória de João Lopes o seu nome foi atribuído à Biblioteca Municipal. A Dideus a nossa homenagem! Por direito João Lopes merece o respeito e admiração dos cabo-verdianos. Ignorar o nome deste ilustre intelectual cabo-verdiano é ignorar os momentos mais significativos da história da nossa literatura. Bem-haja "In Memoria João Lopes". A melhor prenda do Natal.
Parabéns ao Prof. Dr. João Lopes Filho! Que continue a iluminar-nos com a tocha da "Claridade" que recebeu do seu pai!
Mateus Monteiro, Dezembro 2007
João casou com Maria Amália Ramos de FIGUEIREDO. (Maria Amália Ramos de FIGUEIREDO nasceu em Ribeira Brava, São Nicolau, Cabo Verde e faleceu em †.)
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