Tiago ESTRELA ®
- Nascimento: 25 Jul 1927, Ribeira Grande, Santo Antão, Cabo Verde
- Companheiros (1): Alina Tavares Soares de BRITO ®
- Casamento (2): Maria de Fátima Figueiredo ARAÚJO ® em Angola
- Óbito: 1 Fev 2014, Praia, Santiago, Cabo Verde com 86 anos de idade
- Sepult.: 3 Fev 2014, Praia, Santiago, Cabo Verde
Eventos de relevo na sua vida:
• Nota biográfica:,. Funcionário da Administração Civil em Angola. Em Cabo Verde exerceu funções administrativas após a independência. Colecionador e filatelista
• Associação ou club: Sócio nº 365 da Casa dos Estudantes do Império,, em Lisboa, , Lisboa, Portugal. 1 Entre outros dados patentes na ficha, constam:
ESTADO CIVIL: Solteiro
PROFISSÃO: Funcionário Público - Angola
• Foto jovem.
• Foto idade madura: brincando com o bebé chimpanzé.
• Foto idade madura: aos 39 anos, 1966, [Place]. Com alguns colegas do Curso de Administração Pública de 1966, do ex-ISCSPU (UTL),na Junqueira.
Da D/E:Morais Junior, Espirito Santo,TIAGO ESTRELA, Jaime Silva e Noel Pinto
• Descendência. Do matrimónio com Maria de Fátima, duas gémeas, Noémia Maria Araújo Estrela e Maria de Lourdes Araújo Estrela, e Jacinto José Araújo Estrela.
• Foto 3ª idade: 2013.
• O que se conta desta pessoa: artigo no ASemana, a 16 Fev 2014. RETRATOS
Um selo para Tiago Estrela 16 Fevereiro 2014
Tiago Estrela já não está entre nós. Partiu num sábado desatento, daqueles dias em que a cidade sai de si e vai passear. E Praia nem se deu conta que o cortejo que saiu em direcção ao Cemitério da Várzea se despedia de uma das suas figuras mais ilustres. Um homem que dedicou a esta cidade 38 dos seus 86 anos de vida. Como só os grandes homens conseguem fazer, o Senhor Tiago deixou um vazio enorme naqueles que tiveles estavam o privilégio de privar com ele e partilhar as suas paixões. Será recordado pela maioria como o grande, senão o maior coleccionador de selos do país, mentor dos Correios de Cabo Verde e dedicado funcionário da Administração Pública. Mas este santantonense de Penha de França, no vale da Ribeira Grande, era sobretudo um coleccionador de histórias, um homem afável e bem-humorado que nunca achava que era tarde para começar a amar as artes. De nós, a família A Semana de que fez parte como um dos primeiros trabalhadores desta obra que já dura 22 anos, a homenagem é e será sempre este eterno recomeçar, num abraço tenaz às muitas e boas lembranças que deixou por cá.Um selo para Tiago Estrela "Se cultura é tudo o que nos faz cabo-verdianos depois de esquecermos os conceitos e as definições - conhecimento, crenças, moral e arte - Tiago Estrela será lembrado como um cabo-verdiano culto e cultor da Arte". Palavras de Corsino Tolentino, ex-ministro da Educação e embaixador jubilado, sobre o seu ilustre conterrâneo e amigo, nascido a 25 de Julho de 1927. Tiago Estrela faleceu há uma semana, depois de uma vida plena. O legado que deixa ficar é de valor incalculável.
Para Brito-Semedo, professor universitário e vice-reitor da Uni-CV, Tiago Estrela "foi o único filatelista, no sentido pleno do termo, de Cabo Verde". O seu único livro, O Mar nos Selos Postais de Cabo Verde - 1976 a 2003 -, lançado há uma década, constitui um marco na história deste país. Nos últimos anos forjava uma obra sobre as plantas de Cabo Verde, também inspirada nos selos. Pelo meio, duas exposições que revelaram a riqueza da sua colecção feita de cerca de mil peças.
Dizia Tiago Estrela, citando o escritor francês Eugéne Vailléum, "não há imagem mais clara da mentalidade de uma Nação do que a escolha dos selos".
Foi o pai, Jacinto Estrela, quem lhe despertou o interesse por este hobby que à volta do mundo conta com mais de 40 milhões de adeptos. Tinha 10 anos na altura. Mas o progenitor não era um colecionador, apenas um "ajuntador" de selos, contava Tiago Estrela numa entrevista ao A Semana, jornal de que foi um dos fundadores.
Foi em S. Vicente, onde dividiu carteira com Amílcar Cabral no Liceu Gil Eanes, que adquiriu as primeiras noções sobre filatelia motivado por um judeu que durante a II Guerra Mundial fugira da Alemanha de Hitler e veio parar em Cabo Verde. Quando se mudou para Angola, aos 20 anos, a fim de lá trabalhar, depois de ver frustrado o desejo de ir estudar Arquitectura na cidade do Porto (Portugal) por falta de meios financeiros, levou consigo os seus primeiros selos.
Na terra das palancas negras fez carreira na Administração Civil, ao mesmo tempo que crescia o seu interesse pela filatelia. Em 1975, respondendo a um "chamado patriótico", regressou a Cabo Verde. Consigo trouxe os fiéis companheiros, os selos. A família ficou em Lisboa, só mais tarde se fixaria na cidade da Praia. Logo à chegada, Aristides Pereira, o primeiro presidente da República de Cabo Verde livre e independente, recrutou-o como seu secretário-geral, cargo que exerceu durante 10 anos.
Tiago Estrela trabalhava ainda e gratuitamente como assessor dos Correios, ajudando a empresa nacional a dar um rosto crioulo aos selos que o país-arquipélago passaria a usar enquanto nação independente. "O seu trabalho era de alto nível intelectual e técnico", considera Corsino Tolentino, para quem o trabalho voluntário de Tiago Estrela é consequência natural da "aguda consciência social" que tinha enquanto "patriota interessado em melhorar a vida de todos os seus patrícios".
Brito-Semedo, que conheceu Tiago Estrela na década de 1980, na cidade da Praia, recorda-o como "um Senhor. Genuíno, muito afável, de trato fácil e muito humor. Como bom santantonense, era muito ligado às coisas da terra e de Cabo Verde". "Nos últimos tempos, brincava muito comigo dizendo que eu andava com uma grande cabeleira. Eu desafiava-o a ir ao meu apartamento, no 4.º andar, comer as tais coxinhas de galinha de que gostava", conta o vice-reitor da Uni-CV.
Em Angola, Tiago Estrela adquiria selos de várias partes do mundo. Mas na terra natal passou a coleccionar sobretudo selos de Cabo Verde. "Tinha que ser muito rico para coleccionar todos os selos do mundo. Assim, optei pelos da minha terra", explicava Tiago Estrela em entrevista ao Kriolidadi, em 2003. Esses selos eles estavam a "menina" dos seus olhos. Afinal, a ele cabia sugerir aos Correios de Cabo Verde qual ia ser o tema do próximo selo. Todos, sem excepção, fazem hoje parte da sua colecção.
"O primeiro selo de Cabo Verde após a independência foi desenhado por Luís Melo, a meu pedido, e ele viu-se grego para cumprir a tarefa, pois não havia uma aguarela, um pincel" que fosse "para o artista poder desenhar", dizia Tiago Estrela ao Kriolidadi, apontando ainda os artistas que mais vezes convidava para desenhar selos. "Leão Lopes, que considero um artista de mão cheia; é culto, sabe o que está a fazer. Fui eu que o arrastei para os selos. Há também o Lu di Pala. E o Domingos Luísa, também excelente para criar selos".
Casado com D. Fátima, companheira de toda a vida, e pai de família, Tiago Estrela ainda encontrava tempo para dedicar-se a outros passatempos, como a pintura e o desenho. "Era um artista culto e cultor da arte, mas sobretudo um pedagogo. Lembro-me que as minhas filhas Nancy e Leida frequentaram um atelier pioneiro que ele abriu no Parque 5 de Julho, na cidade da Praia", conta Corsino Tolentino. Uma entre muitas outras démarches que fez para inculcar nos jovens o gosto pelas artes.
"Foi uma pessoa das artes e muito apegado aos valores humanos como a honestidade, solidariedade, responsabilidade e amor ao próximo", confirma o filho Jacinto Estrela, sociólogo e vice-reitor da Universidade Jean Piaget, que não herdou a paixão pela filatelia. Mas promete dar "o melhor destino ao legado do pai : a sua colecção de selos, materiais de filatelia e livros sobre história e arte".
Como? Conservando-o e divulgando-o para toda a nação cabo-verdiana. Fosse outro o fim a dar-lhe, o país ficaria mais pobre. Porque apreciar a colecção de selos de Tiago Estrela é como viajar à descoberta da história de Cabo Verde e constatar o quanto evoluímos enquanto nação e povo independente. É também uma montra que dá a ver por dentro a história dos Correios de Cabo Verde.
Para Brito-Semedo, o contributo de Tiago Estrela para a filatelia nacional é "inigualável". "Ousaria dizer que sem a sua dedicação e conhecimento na área, a filatelia cabo-verdiana não teria chegado aonde chegou. Daí propor um selo em sua homenagem. Eu sei que ele iria ser modesto, aliás, como os homens do seu calibre habitualmente são. Diria que não é preciso ou que não merece, mas devemos-lhe isso", defende o professor universitário.
• Homenagem/Louvor/Reconhecimento: selo postal, em 2014.
Tiago teve uma relação com Alina Tavares Soares de BRITO ®, filha de Jaime Soares de BRITO ® e Josefina TAVARES ®.
Tiago a seguir casou com Maria de Fátima Figueiredo ARAÚJO ®, filha de Rafael António Gomes ARAÚJO ® e Ema Júlia Leite de FIGUEIREDO ®, em Angola. (Maria de Fátima Figueiredo ARAÚJO ® nasceu a 31 Mar 1931 na Praia, Santiago, Cabo Verde, faleceu a 5 Dez 2016 na Praia, Santiago, Cabo Verde e foi sepultada a 6 Dez 2016 na Praia, Santiago, Cabo Verde.)
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